terça-feira, 10 de julho de 2012

NOSSA LAVRA: "A MACACA QUE TANGIA BURROS", DO CORDELISTA JOÃO TELES

Peço licença ao leitor
Pra pegar no meu chicote
Despachar toda preguiça
Sem deixar cair o mote
E falar dos comboieiros
Sem maldade nem dichote

Comboieiros eram homens
De valor e de respeito
Que carregavam nas costas
Tal qual escravo no eito
Atividade tamanha
Sem justeza e com defeito

Não é justo que um homem
De tamanho reduzido
Maltratado pela fome
Em trapos sempre metido
Seja ao trabalho dobrado
Por força submetido

Comboieiros carregavam
Das serras para o sertão
Em lombo de jegue e burro
Desde a farinha ao feijão,
O peixe, a batida, a goma,
O beiju: a produção!
 (...)

Homens corudos, valentes
Sempre de macaca à mão
Davam tiros só no ar
Pra bater sem intenção
Coitado, o jegue gemia
E se retorcia, então
(...)

Andavam na Zona Norte
De cada em cada cidade
Coreaú, Frecheirinha
Mocambo: “Ai que saudade!”
Meruoca, Massapê
Senador Sá e arrabalde

Sentimento de que é bom
Ser honesto, verdadeiro
Trabalhar de sol a sol
Não ser velhaco, matreiro
Temer a Deus e sonhar
Com um plantel no terreiro

Cada jegue, cada burro
Cada batida vendida
Cada saca de farinha
Pela rua oferecida
Representavam a riqueza
Daquela gente sofrida

De mês em mês se descia
Da serra para o sertão
Levando muito produto
Num mundo sem caminhão
Vendiam fé e esperança
Além de milho e feijão

Por acaso o motorista
Que hoje num caminhão
Arrasta peixe e cerveja
Come cará com baião
Não herdou o sofrimento
Desses heróis do Sertão?
(...)
(Trechos extraídos da obra)

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