sábado, 22 de setembro de 2012

O HISTÓRICO AÇUDE BEREGUEDÓ





Fotos: Prof. Davi Portela

    O açude Breguedof, conhecido, na intimidade por Bereguedó, é uma legenda. Este açude construído sob a orientação do engenheiro Tristão Frânklin de Alencar, durante a seca de 1888, com recursos provenientes da verba dos socorros públicos, não chegou a ser concluído, pois alguns detalhes da obra deixaram de ser realizados. Em conseqüência desse fato, tempo depois sua barragem rompeu-se. Sua reconstrução ocorreu em 1910, tendo como base os estudos efetuados, em 1909, pelo Engenheiro Júlio Gurgel.
  Consta que tal denominação lhe foi dada em homenagem ao seu construtor, que não se sabe ao certo ser alemão ou russo. Procurei muito, todavia, nada encontrei sobre a origem dessa denominação. Parece-nos que não está ligada ao construtor, como foi sugerido por alguns historiadores, haja vista a existência de documentos que mencionam os engenheiros responsáveis pela sua construção e pelo projeto de sua reconstrução. Existe no Arquivo Público do Estado um documento que reforça a nossa tese. Trata-se do ofício da Câmara Municipal, datado de 3 de julho de 1903, dirigido ao Secretário do Interior, Miguel Ferreira de Melo, respondendo a um questionário no qual este açude é referenciado. Neste expediente, encontramos, dentre outras, a seguinte afirmação: “Ao 3º que o dito açude é denominado de “açude do governo”. Melhor seria dizer que a denominação “Breguedof”, possivelmente, está ligada ao cidadão que comandou a sua construção. A prevalecer tal conjectura, esse senhor, certamente, teria uma ligação com a cultura germânica.
   O termo “Breguedof”, como é grafado em alguns documentos que tratam dessa barragem, provavelmente, deriva do idioma alemão, que possui as palavras: Bergedorf e Bergdorf, muito próximas do vocábulo em epígrafe.
    Segundo a grande Enciclopédia Delta Larouse, Editora Delta S.A, Rio de Janeiro, p. 861-DER, Bergedorf é uma cidade situada às margens de um braço do Rio Elba, próxima de Hamburgo. Nesta cidade, encontra-se instalado um observatório astronômico. Quem sabe não fosse esta a terra natal do referido encarregado pelas obras de reconstrução da citada represa?
    Outra suposição lógica está vinculada à topologia do local, onde se encontra encravado o vetusto açude, uma planície, rodeada de montanhas, a uma pequena distância da Vila da Palma, hoje cidade de Coreaú. Em alemão, BERG significa “montanha” e DORF “aldeia”. Daí o vocábulo Bergdof ser traduzido por “aldeia da montanha”, encaixando-se perfeitamente no panorama topológico do sítio, no qual repousa o nosso histórico “Breguedof”.
    A julgar por tais semelhanças, quero crer tratar-se de uma forma adulterada de um dos termos alemães “Bergedorf” ou “Bergdorf”, a denominação “Breguedof. Neste contexto, o reconstrutor teria contemplado uma das duas versões apresentadas para a homenagem em relevo ou outra que desconhecemos.
   Polêmicas e suposições à parte, o povo, com sua sabedoria inquestionável, e indiferente às discursões acadêmicas, preferiu crismá-lo com um nome bem sugestivo, partindo de uma forma ‘aportuguesada’ do termo estrangeiro, o aproximou de nossas raízes indígenas, pois ‘Bereguedó’ tem uma certa identificação com o linguajar tupiniquim. Sendo, com certeza, mais bonito e significativo.
    O Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho, notável estudioso da Geografia, História e Etnografia do nosso Estado, em seu magnífico trabalho, Monografia N. 23, 2º Volume, intitulado História das Sêcas, (Século XX); Coleção Instituto do Ceará; Editora A. Batista Fontenele; Fortaleza, 1953; pp. 249-279; ao relacionar os açudes estudados pela ”Comissão de Açudes e Irrigação”, realizados antes da criação do IFOCS207, observa que:

b) Breguedof: Situado no Município de Palma, hoje Coreaú, no riacho do mesmo nome, a menos de um quilômetro da atual cidade, sede da comuna. Trata-se dos reparos e aumento de um antigo reservatório, parcialmente arrombado, que serve de logradouro à população urbana. Fôra construído em 1888, com recursos fornecidos pela verba “Socorros Públicos”, crédito aberto em vista da sêca flagelante daquele ano. As obras antigas realizadas pelo Engenheiro Tristão Franklin de Alencar não foram ultimadas, razão por que a parede foi em parte levada pelas águas que não encontraram franca vazão pelo sangradouro. O novo projeto, calcado sobre os estudos feitos pelo engenheiro Júlio Gurgel em 1909, consta da reconstrução e elevação da barragem de terra e novo sangradouro. A barragem com 8 metros de altura, 116 de comprimento, tem o volume de 6.238 m3, sendo 2.800 correspondentes aos reparos, formam um reservatório de 272.0000 metros cúbicos. A bacia hidrográfica representa uma área de 650 hectares e a hidráulica apenas 11 hectares.
A reconstrução deste açude, feita em 1910, custou 13 contos de réis.

   Temos a nítida convicção de que a construção resultou dos encaminhamentos dados pelo historiador Antonio Bezerra de Menezes, ancorados Nas observações feitas por ele quando de sua famosa visita à Vila da Palma, em outubro de 1884.
  O velho Bereguedó, como todos carinhosamente o chamam, por muitos anos, foi usado como fonte de abastecimento d’água para a cidade. Mas tinhas outras finalidades, como lavar a roupa de nossa gente e matar a sede dos animais. Era, também, uma grande atração para os pescadores da época.
Plantado num bonito vale, entre serrotes, ele assiste silenciosamente, ao progresso que transforma, lentamente, a cidade que já não depende de suas águas para matar a sede de seu povo. Mas continua presente na memória de todos aqueles que um dia beberam ou tomaram banho em suas águas límpidas e transparentes.
Leonardo Pildas
História de Coreaú (1702-2002)